terça-feira, 2 de novembro de 2010

TCC: Uso Pedagógico de Mídias nas Escolas: Prática Inovadoras.O uso pedagógico das mídias acontece de maneira satisfatória no âmbito das escolas públicas?

Parte I
I - Introdução



O produto final de um trabalho feito a partir de uma graduação, pós-graduação, ou simplesmente de um curso que nos interessa, seja ele de que natu-reza for só nos será realmente útil se este trouxer reflexões, mudar ou confirmar o que acreditamos acrescentar idéias e não somente ao seu término, mas também durante todo o processo. Para isso é necessário um constante refletir, questionar, discutir, pesquisar, ler, reler, descobrir, “assimilar”, “acomodar”. É característica importante para os professores, aqueles que iniciaram ou aqueles que a muito pen-sam como pesquisadores, estas premissas acima descritas; estas devem fazer parte do seu cotidiano, no seu ambiente de trabalho, é preciso estar sempre “antenado” às novidades, aos novos paradigmas, ter em volta de si e em sua mente, terreno fértil, um ambiente que promova essas reflexões. Na contemporaneidade não é mais cabível um professor alienado, fora do seu tempo e seu tempo é o agora. Em se tratando inclusive das novas tecnologias, mas não somente nesse caso. Entenda-se, no entanto, que não se trata de seguir modismos ou fazer por que “todo mundo faz” e sim de estar a par do que se discute sobre a área em que atua, seus interes-ses, porém, observe, de maneira crítica e reflexiva.

A partir disso, o que, na prática, acontece nas escolas? Qual realidade o professor tem no seu dia-a-dia? E mais importante que isso é: o que é possível ser feito, a partir do que esse professor tem? Qual a motivação dele (a) para transfor-mar essa realidade?

A entrevista de Pedro Demo, que também pode ser encontrada no portal do professor ou no link: http://www.nota10.com.br/, elucida de uma maneira simples e fácil o desafio que é o trabalho do professor hoje e a necessidade de uma mudança na sua postura, que já se vê fora do Brasil, mas que aqui ainda não alcançamos. Coloca ainda que a escola precisa de uma mudança, mas que essa mudança deve partir do professor começa a partir dele próprio, pois “Ele é a tecnologia das tec-nologias, e deve se portar como tal”.


É realmente um grande desafio em meio a tantas “novidades” o professor se achar deixar de lado uma postura na qual acredita e renascer, se reconstruir

Como diz Demo: “A pedagogia precisa inventar um professor que já venha com uma cara diferente, não só para dar aulas e que seja tecnologicamente correto. Que mexa com as novas linguagens, que tenha blog, que participe deste mundo – isso é fundamental”. (Demo apud Salgado, 2008, p. 135)

A presença das tecnologias nas escolas, não é de hoje. Desde a década de 80 se revelava a inevitável entrada das mídias no âmbito educacional. A escola, como de costume, tem “pegado carona” no contexto social, quer dizer, tem que lutar contra os atrativos que existem fora das salas de aula e fazer uma ponte, diga-se de passagem, bem precária, para atrair os alunos e mantê-los entre suas paredes. Antigamente, apregoando os benefícios de se manter os estudantes dentro da escola, para o seu próprio bem, para não se acompanharem de más amizades, se livrarem das drogas e tantos outros argumentos, que acabavam fazendo da escola não um ambiente próprio para a construção do conhecimento, mas um ambiente de tutela e guarda dos alunos. E não é esse o objetivo de uma instituição educacional. Obviamente que fazendo isso a escola trazia para si mais responsabilidades que realmente suportava. Porém não se pode negar, na atualidade, as mudanças vistas em algumas instituições quando criam ambientes, estratégias, inovações dentro e fora das salas de aula para atrair os alunos. Vê-se em reportagens escolas que reativaram suas bandas de músicas, montaram oficinas de teatro, de capoeira, e como não poderia deixar de ser ativaram seus laboratórios de informática.

Nos últimos anos vimos esse avanço tecnológico invadir as escolas, porém eles continuam sendo utilizados por uma minoria, ainda não (em alguns casos) com objetivos concretos e educativos, na maioria das vezes, porém com o objetivo de tornar a escola atrativa ao aluno, diminuir a evasão, ocupar o “tempo livre”, cumprir exigências das secretarias, deste ou daquele projeto do qual a escola recebe recursos... Mas será essa a melhor maneira de tratar esses “instrumentos” dentro das escolas?


O uso das Tecnologias da informação e da comunicação nas escolas está, como há dez anos, “engatinhando” no que diz respeito à sua real utilização. O que se vê, como em entrevistas e questionários realizados numa amostragem mínima em escolas públicas de Natal, Grande Natal (Parnamirim) e Mossoró/RN, pela turma do curso de Especialização em Tecnologia em Educação, 2009/2010, e-proinfo/PUC/Rio em virtude de uma atividade proposta (ver anexo, p.50 a 54), é que esse uso, quando acontece, se dá de maneira aquém do desejado, alguns pro-fessores não estão preparados para acompanhar os alunos, as máquinas não têm uma manutenção satisfatória, os laboratórios, em alguns casos, nem estão monta-dos e os computadores ainda encaixotados. Mas não podemos como diz Demo:

Só criticar o professor, ele é uma grande vítima de todos esses anos de descaso, pedagogias e licenciaturas horríveis, encurtadas cada vez mais, ambientes de trabalho muito ruins, salários horrorosos... Também nós temos mais que criticar, cuidar do professor para que ele se coloque a altura da criança. E também, com isso, coloque à altura da criança a escola – sobretudo a escola pública, onde grande parte da população está. (Demo apud Salgado, 2008, p. 135)



Os profissionais da educação entrevistados, e inclusive eu, fazem uso do computador apenas de maneira “doméstica”; para troca de e-mail’s, escrita de relatórios, pesquisas na internet. Em algumas situações o aluno tem mais familia-ridade com o meio que o mediador. E o que se vê é cada vez mais exigências da sociedade para que adquiramos mais informação, conhecimento. Criou-se então uma nova cultura, como muito bem coloca Pozo na citação abaixo e a nós não é permitido declinar o convite.

“as tecnologias da informação estão criando novas formas de distribuir socialmente o conhecimento, que estamos apenas, começando a vislumbrar, mas que, seguramente, tornam necessárias novas formas de alfabetização (literária, gráfica, científica, etc.) (Pozo, 2001)”. “Elas estão criando uma nova cultura da aprendizagem, que a escola não pode- ou pelo menos não deve- ignorar”. ( Pozo apud Salgado, 2008 p.30)

Apesar disso a metodologia usada nos laboratórios não condiz com a ur-gência dessa nova geração e das exigências da sociedade. Ainda é preciso repensar o verdadeiro valor desse meio nas escolas, é preciso ter claro, que assim como o meio a metodologia também deve se transformar. É preciso novas formas de ensinar para uma nova forma de aprender. Para Kenski:
“Em um mundo em constante mudança, a educação escolar tem de ser mais do que uma mera assimilação certificada de saberes, muito mais do que preparar consumidores ou treinar pessoas para a utilização das tecnologias de informação e comunicação. A escola precisa assumir opapel de fomar cidadãos para a complexidade do mundo e dos desafios que ele propõe. Preparar cidadãos conscientes, para analisar criticamente o excesso de informações e a mudança, a fim de lidar com as inovações e as transformações sucessivas do conhecimento em todas as áreas.” (Kenski,2007, p.64)

No tocante a esta problemática existe muito mais por trás, não apenas a questão da formação dos educadores, mas diria inclusive desejo social e político. Partindo do micro espaço (escola) para o macro espaço (município, estado, região, país).

A complexidade da questão é tanta que não caberia num simples texto. En-tretanto este é um processo irreversível. Valente lista três posições possíveis de serem tomadas: a do ceticismo, da indiferença e do otimismo, com relação às no-vas tecnologias nas escolas. É necessário que se discuta não apenas, em cursos de formação, especialização essas posições, mas impreterivelmente e urgentemente nas escolas, aonde a coisa realmente acontece. Qual a visão que a escola dá a isso? Qual a posição dos gestores, professores? O que é feito no sentido de importância, significado para a instituição?

Na visão ceticista vários argumentos são postos como a pobreza das esco-las, a informação é transmitida de maneira obsoleta, o computador como desuma-nizador da educação, provocando uma formação desumana e de pessoas desuma-nas.

A visão otimista tem argumentos que segundo Valente são comuns e nem sempre convincentes sejam estes: o modismo, a escola devendo preparar para o futuro, o computador como meio meramente didático, a escola mais motivadora para competir com a realidade que o aluno vive, o poder de desenvolver o raciocí-nio.

O que temos que levar em consideração, acredito eu, em ambas as posi-

ções é o que podemos fazer para que esse uso seja realizado de maneira construti-va, produtiva, motivadora, se ceticamente é vista de maneira pessimista, o que se pode fazer para reverter tais pensamentos? Seria estudar mais o assunto? Motivar o professorado e equipe?

Se optarmos pelo positivismo, o que fazer para sair da mesmice no uso dos computadores e da ilusão que ele será o salvador, solução para tudo? Sair de a todo tempo e para tudo usar o computador? Sugiro estudar mais e colocar em prá-tica o que se aprende. A frase de Dewey serve então também para os professores: “Se não se compreende o que se aprende, não há ‘boa’ aprendizagem” (Dewey apud Hernández, 2008 p. 25)

Para isso é necessário também repensar o currículo e a maneira como vemos e pensamos e como desejamos que nossos alunos reajam.

Por outro lado, é possível considerar que a utilização das tecnologias, sejam elas, o lápis, caderno, giz ou som, vídeo, DVD, computadores, presentes nas esco-las precisariam ser vistos de maneira inovadora para que pudessem ser pensados, planejados e utilizados de forma inovadora. A disponibilidade dos educadores em tomar atitudes inventivas não depende do “material” usado e sim da sua postura frente ao que seja: aluno, conhecimento, aprendizagem e a profunda relação entre es-tes, não se esquecendo que ele, o educador, é maestro desse processo. Deve-se considerar então que as atitudes façam parte de uma, por assim dizer, filosofia de vida, ou seja, do que a pessoa enquanto profissional acredita e ao mesmo tempo no que acredita enquanto indivíduo.

É de suma importância que o papel da educação, como também das tecno-logias, neste contexto, seja analisado e que suas influencias e mudanças sejam observadas de maneira crítica. É, nesse caso, função da escola e da educação, cla-ro, proporcionar essa mediação entre aluno/máquina e o processo de aprendizagem. “Se realmente acreditamos que é possível um outro mundo- e temos de acreditar nisso para desejá-lo- é preciso investir no conhecimento e, segu-ramente, na aprendizagem”.(Pozo apud Salgado, 2008. P.30)

Concordo com Valente (1999) quando diz:

[...] O uso do computador na educação objetiva a integração do educador no processo de aprendizagem dos conceitos curriculares em todas as modalidades e níveis de ensino, podendo desempenhar papel de facilitador entre o aluno e a construção do seu conhecimento. (in: webarti-gos.com - Juliana Lennaco)

E acho oportuno acrescentar à essas diversas modalidades a Educação In-fantil, a qual traçarei algumas considerações mais a frente neste texto.

Obviamente a integração do educador em diferentes níveis de ensino, pode ser estendido tanto para as teorias/metodologias construcionistas quanto tradicionais. Se o educador acredita piamente nesse ou naquele método, este será positivamente utilizado e apresentará bons resultados, será eficaz e eficiente. O que temos que refletir é: cabe uma prática arcaica quando temos recursos, metodologias desafia-doras? Reportemos isso para a metodologia de projetos e a este atrele as novas tecnologias e veremos práticas inovadoras. Será mesmo? Segundo Hernández, falando sobre as inovações que vêm de tempos em tempos, ou de práticas inova-doras que acabam sendo transformadas em parâmetros a serem seguidos, inclusive adotados por regimes escolares, oficializadas é que:

“o dia em que os projetos de trabalhos acabarem por ser oficializados, convertendo-se numa prescrição administrativa, como parece que tentam algumas reformas educativas e perse-guem as editoras de livros-texto, começarei a questioná-los, talvez olhe para outro lado, para evitar com isso que “coisifiquem”, como aconteceu com outras inovações educativas. ”(Hernández, 1998, p.20)

Parece-me, que caímos naquela velha história de se querer receitas prontas para fazer isso ou aquilo na educação, os professores estão sempre em busca da formula perfeita para usar com seus alunos; pois bem, não estará essa receita na sua própria sala de aula? Tornando-se o professor um pesquisador da sua prática, avaliando e reavaliando os passos dados no seu cotidiano, buscando sempre o co-nhecimento e acima de tudo buscando conhecer o seu aluno, pensando suas neces-sidades, o que faria a diferença para este tipo de turma, é que poderia achar a suaprópria receita mágica. Isso quer dizer que as mudanças devem vir de dentro das escolas e não de fora para dentro e de cima para baixo. A quinta transgressão a que Hernández se refere, no seu livro: Transgressão e mudança na educação os projetos de trabalho, diz respeito exatamente a isso:

“a perda da autonomia no discurso docente, à desvalorização de seus conhecimentos e à sua substituição por discursos psicológicos, antropológicos ou sociológicos que pouco respondem ao que acontece no cotidiano na sala de aula. Nesse sentido, reinvidica vozes dos docentes frente às dos especialistas e experts, partindo da convicção, assinalada por Stenhouse, de que as inovações são realizadas pelos professores ou acabam não acontecendo”(Hernández, 1998, p13)

Um comentário:

Anônimo disse...

Celina,
Gostei imensamente da sua escrita. A sua linguagem me é extremamente agradável e estimulante.
Gostaria de ver seu incremento deste blog. Vale a pena ler o que você escreve.
Saúde muita para você.